A vida sem pontuação
Ricardo Wardil*

Comecei a observar as
pessoas e fui percebendo que se esqueceram de pontuar a vida. Aquelas regrinhas
básicas que aprendemos na escola, mas que a sobrevivência se incumbiu de
jogá-la para fora do trem da vida.
As pessoas saem do trabalho
e se esquecem do ponto final e leva para casa todo o trabalho na mente, que se
mistura com as compras do lanche, as conversas familiares e se estende até a
noite. E o sono não vem, porque a mente agitada não deu ponto final em cada
afazer. Quando dorme continua no sono até o despertar. Não houve fim, logo não
tem inicio.
No automatismo da vida os
sentidos amortecidos esqueceram o ponto de exclamação. Perdeu-se a entonação do
regozijo, da surpresa, do belo. As indignações se calam diante da impotência. Os
medos velados afastam as pessoas pela desconfiança e a negação diante da
impossibilidade da exclamação eliminou a interrogação: Qual o significado da
vida? O que estamos fazendo aqui? E talvez a pergunta primeira: “Que buscais?”
(Jesus).
Respostas para estas
perguntas exigem uma vida com mais vírgulas, ou seja, aquelas pequenas pausas
entre uma emoção e outra, propiciadoras de reflexões que encontram novos
significados. Uma vez encontrado, os ”dois pontos” abre espaço para uma
elaboração e introjeção melhor do que se está percebendo para que as relações
humanas se enriqueçam de novos saberes e sabores.
Nem sempre encontramos
respostas e nem por isso deixamos de viver. Viver não precisa de respostas,
precisa de escolhas coerentes com o final que queremos para o nosso capítulo.
Para estas perguntas sem respostas, usaremos as reticências...
*Médico homeopata /
Belo Horizonte