As
Formigas e a Pena
Uma formiga que caminhava,
perdida, sobre uma folha de papel, viu uma pena que desenhava traços negros e
finos.

Contou seus pensamentos
a outra formiga, que ficou igualmente interessada, e elogiou os poderes de
observação e reflexão da primeira formiga.
Mas outra formiga lhe
disse:
— Valendo-me de teus
esforços, devo admiti-lo, tenho observado esse estranho objeto. Mas cheguei à
conclusão de que não é ele que impulsiona seu trabalho. Cometeste o erro de não
observar que a pena está ligada a outros objetos, que a rodeiam e conduzem.
Esses devem ser considerados como a origem de seu movimento, acredite.
Desse modo as formigas
descobriram os dedos.
Passado algum tempo,
outra formiga caminhou sobre os dedos e percebeu que faziam parte de uma mão,
que explorou total e minuciosamente, no estilo das formigas, andando por todos
os lados, esquadrinhando-a toda.
Voltou então para junto
das companheiras e gritou-lhes:
— Formigas! Tenho
notícias importantes para vocês. Aqueles pequenos objetos fazem parte de outro
muito maior. E este é o que realmente move tudo.
Depois descobriram que a
mão estava ligada a um braço, e o braço a um corpo; que não existia uma, mas
duas mãos; e que existiam dois pés, que não escreviam.
As investigações
prosseguiram. Assim, as formigas chegaram a ter uma ideia adequada da mecânica
da escrita.
Através do seu método de
investigação costumeira, entretanto, nada conseguiram saber a respeito do
sentido e da intenção da escrita, nem sobre como, finalmente, eram
determinados: as formigas não sabem ler e escrever.
(in Histórias
da Tradição Sufi – Edições Dervish, 1993)