Vontade
Carlos Bernardo
González Pecotche (Raumsol)

Os movimentos da vontade, pequenos ou
grandes, são impulsionados por dois fatores de primordial importância que se
alternam e substituem, temporariamente ou permanentemente: a necessidade e o estímulo.
A necessidade atua sobre a vontade,
determinando movimentos quase automáticos que forçam o ser a realizar até aquelas
coisas que não quer ou que deveria fazer espontaneamente, a instâncias de seu
pensar e sentir; seu principal agente é a premência, que não admite dilações de
nenhuma espécie, enquanto urge o cumprimento de uma obrigação, de um dever ou a
satisfação de uma exigência iniludível.
O estímulo age também sobre a vontade, mas
além disso ativa a inteligência e o sentimento, despertando o nobre afã de
substituir a escassez pela abundância em cada um dos setores da vida em que a
vontade desempenha papel preponderante.
A vontade se excita e adquire brio quando
este último fator intervém. Por mais cansada que uma pessoa se encontre ao
término de uma jornada, se lhe é oferecida a oportunidade de recrear-se ou
distrair-se com algum passatempo favorito, dificilmente deixará de fazê-lo.
Isto significa que a perspectiva de passar um momento agradável influi aqui diretamente
sobre a vontade, ativando-a. Fica demonstrado assim como se mobiliza a vontade,
acicatada por um estímulo qualquer, o que dá ideia do muito que se pode
conseguir quando ela se ativa em virtude de estímulos altamente edificantes,
como os que o conhecimento transcendente proporciona.
(...)
A antideficiência que aconselhamos aplicar
nos casos de falta de vontade é a decisão.
Para que seja efetiva terá de ser praticada conscientemente, com
responsabilidade – como o requer toda antideficiência – sobrepondo-se com
empenho à inação, até triunfar no forcejo psicológico. O ser deve demonstrar
que é capaz de contrapor à abulia que o domina a decisão de combatê-la. Assim
conseguirá ter vontade para tudo.
Será necessário, em primeiro lugar, querer
uma coisa ou querer fazer algo; mas querê-lo com força, para ensejar que a
antideficiência entre em vigor. Só o fato de pensar que estamos levanto à
prática uma disposição emanada de nós mesmos, que tem por fim imediato nosso
próprio benefício, contribuirá de maneira decisiva e sem maiores tropeços para
a consecução daquilo que buscamos.
(...)
A decisão vigoriza o temperamento e faz com
que o ânimo se recupere no instante mesmo em que começa a decair. A vontade,
assim fortalecida, vai-se erigindo em valor inapreciável, constituindo-se na
força que move o homem na procura dos bens que prometeu à sua vida e ao seu
destino.
Tendo isso presente, não se deixarão para
amanhã as coisas que se possam fazer hoje, visto que, fazê-las oportunamente,
permite ganhar um tempo que no dia seguinte poderá destinar-se a outros
afazeres.
(...)
É muito o que o homem pode conquistar no
campo das realizações superiores, sendo o saber a prerrogativa máxima que lhe
foi concedida. Não existe, pois, maior estímulo para a vida.
O saber aumenta a vontade e faz com que
tudo se consubstancie na ação.
[Extrado do cap. Falta de vontade, da obra Deficiências e Propensões do Ser Humano; São Paulo: Ed. Logosófica, 1984; 2ª parte – Deficiências, pág. 37]
-o-
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