Gentileza, uma questão de escolha
José Lourenço de Sousa Neto (BH., 18.11.2013)
O
artigo “Uma questão de escolha”, de domingo, 17.11.2013, de Lilian Monteiro, no
jornal Estado de Minas (caderno Bem Viver, págs. 1, 3 e 4), aborda um tema
velho, mas nem por isso devidamente incorporado – a gentileza.
Fala-se
muito na gentileza e todos queremos ser alvo de seus préstimos. E esbravejamos,
quando achamos que alguém não foi devidamente gentil conosco. No entanto,
poucos se dedicam a praticá-la. O espírito competitivo fora de propósito – no
trânsito, nas filas, pelos lugares nos ônibus –, a ganância e o tirar vantagem a qualquer custo,
estabelecem a vigência da lei da selva e de cada
um por si, o resto que se dane.
Vejamos
alguns pontos da reportagem citada.
“O fim de ano é tempo de
confraternização, cordialidade e sorrisos. Mas traz também estresse e correria
em meio a compras.” – O tal “espírito
natalino”, ou “de confraternização”, não sobrevive a um olhar mais acurado.
Muitas pessoas sequer sabem ou se lembram do seu significado. Manipulados pelo
marketing da ocasião, tangidos pelo “todos fazem”, desfilam hipocrisia e tentam
esconder, com o gesto teatral da troca de presentes e afabilidades, a
verdadeira realidade do egoísmo e do interesse particularista. Talvez fosse
preferível que não desviássemos nossa atenção, com comportamentos insinceros, e
mantivéssemos o foco no ogro interior que ainda não domamos.
“A capacidade inata do
ser humano para o altruísmo [é] o que mantém a espécie ao longo da história”,
segundo estudos do prof. Sam Bowles, do Instituto Santa Fé, nos Estados Unidos.
– Vê-se, por aí, que gentileza tem valor de
sobrevivência. Por que, então, parece cada vez mais desvalorizada?
“A gentileza regula as
emoções, causa impacto positivo na saúde e manda para longe ressentimentos,
raivas, dores, medos... É uma virtude.” – Não seria o caso de
sermos gentis, mesmo por egoísmo? Ao sermos polidos com alguém que, na mão
contrária, é um grosso, no mínimo vamos evitar que o veneno secretado não seja
acolhido por nós.
“Ser gentil é uma
escolha.” – Mas temos uma queda desgraçada para más escolhas!
E depois lamentamos as consequências...
“Gentileza na alma e,
consequentemente, na atitude.” – Se trabalharmos com a
ideia de que somos um continuum que
vai do animal ao divino, o corpo está mais próximo do bruto, enquanto nossa
alma anseia pela transcendência. Num, domina a lei do mais forte, a luta pela
sobrevivência, a selvageria. Noutro, despontam sinais de algo mais elevado,
apontando o sublime. Os dois anjos em antagonismo – qual deles preferimos
alimentar? Nosso livre arbítrio permite a escolha, mas a lei de causa-e-efeito
impõe a consequência.
“Não é possível mascarar
a gentileza. Fingir ser gentil. As pessoas podem até aplicar artimanhas para
passar a imagem de agradáveis, aprazíveis e delicadas, mas não a sustentarão
por muito tempo. Vão se revelar como realmente são”, explica o médico e
psicanalista Geraldo Caldeira. – Tem gente que até tenta
colar no rosto aquele sorriso de comercial de pasta dental, mas não há cola que
o mantenha no lugar por muito tempo. Por isso a gentileza é uma coisa que sai, brota dentro e escorre para o
mundo. É um exercício interior; uma tomada de decisão que acarreta um trabalho
de transformação íntima. Sua prática, consciente, pensada, intencional, a
princípio, torna-se natural com o tempo (“a disciplina antecede a
espontaneidade” – Emmanuel/Chico Xavier).
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“... desarma as
pessoas...” – Não se apaga um fogo adicionando-lhe
combustível. Uma gentileza pode evitar um incêndio.
“... está presente na
palavra, no ato...” – Do pensamento ao verbo,
e desse ao ato, a gentileza flui, quando é sincera e incorporada ao jeito de
ser do indivíduo.
“Ser gentil é fazer o
bem com o outro e para você também. Gentileza é a disponibilidade que existe
para a vida.” – Gentileza é dessas atitudes que trazem, em
si próprias, sua recompensa. Pelo menos,
vamos melhorar um pouquinho o mundo ao nosso redor e evitar muita dor de cabeça,
estômago, peito, etc.
Vale a pena tentar!
Gostei muito do texto sobre a gentileza. Obrigada, Jose Lourenço de Souza Neto. E sempre interessante ler sobre o que nos leva a esse exercicio para obter esses resultados tao positivos para a nossa condiçao humana.
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