Geração
inquieta versus gestores
ultrapassados
José Lourenço de Sousa Neto*
Muito se avançou no entendimento do
ser humano, seu funcionamento e motivações. A complexa psicologia do homem
revelou ser o lado oculto de um iceberg, que mal se deixa ver na ponta que atua
socialmente. Interagir, lidar com pessoas, dirigir e até mesmo colaborar, não
são tarefas tão simples como se supunha até pouco tempo atrás. Ainda assim,
continuam existindo organizações e gestores que veem os indivíduos como máquinas de carne e osso. Quando tentam
encontrar soluções para o dia-a-dia do trabalho, parecem buscar quais botões
corretos apertar, ou quais alavancas devem ser acionadas.
O famigerado “estudo de tempos e
movimentos” parece fazer parte do passado, peça do museu da história da
Administração, mas ainda hoje somos surpreendidos com medições de desempenho semelhantes
aos parâmetros de Frank e Lillian Gilbreth, do início do século 20. Prêmios ao
“operário padrão” (hoje disfarçado de “funcionário de destaque”) ainda podem
ser encontrados por aí, em uma ou outra organização anacrônica. Da mesma forma
que persistem expressões que pretendem descrever a empresa como “uma grande
máquina, azeitada e com cada peça no
lugar”, ou uma “orquestra e seus instrumentos”.
O conjunto dos funcionários é chamado de mão-de-obra,
ou, não sei se irônica ou cinicamente, de “nosso mais valioso recurso/patrimônio”. Os mais moderninhos
arriscam um humanware, em extensão a software e hardware.
Em suma, pessoas continuam sendo
vistas como máquinas, equipamentos. Só que uma máquina danada de chata – tanto para se lidar como para manter e
reparar!
O robot, por mais avançado
tecnologicamente que seja, quando danificado ou gasto pelo tempo e uso, não
envolve a complexidade do ser humano. Afetos, valores, sentimentos, percepções
e motivações não compõem seu dicionário ou descrição de funcionamento – não são
quesitos a considerar no manual de utilização.
A Psicologia trouxe à luz a busca
natural dos indivíduos pela autorrealização. Todos nós temos nossas propensões,
nossas tendências, nossos anseios na vida (e da vida), e um impulso (pulsão) natural por efetivá-los na prática
– a “manifestação efetiva do potencial”, nas palavras do prof. Raul Marinuzzi.
A afirmação atribuída a Maslow, de
que uma pessoa deve se tornar aquilo que
ela tem potencial para ser, como fator indispensável para o desenvolvimento
sadio da personalidade, continua atual como nunca. Para ele, cada indivíduo
é dotado de propensão inata à autorrealização. E isso cria um sério problema para
gestores à moda antiga, que se acham no direito e competentes para dirigirem seus funcionários.
Se os interesses do funcionário se
alinham com as exigências da tarefa que executa, ótimo – ganha o indivíduo,
ganha a organização. Caso contrário – e considerando que nem sempre é possível
fazer apenas o que se quer –, é preciso encontrar motivação (= motivo para ação), boas razões para se
manter na função, pelo menos por algum tempo. Esse é o grande desafio dos dias
atuais, em que as organizações estão às voltas com uma geração jovem muito mais
demandante e inquieta. Ter o funcionário cativo por tempo indeterminado e,
especialmente, sua absoluta fidelidade, não parece mais possível hoje em dia.
Resta aos líderes repetirem com o poeta: “que não seja imortal, posto que é
chama, mas que seja infinito enquanto dure”.
Não sendo mais possível lidar com as
pessoas como se fossem máquinas, nem prendê-las por longo tempo, fica a opção
de extrair da convivência o máximo possível – tanto para a organização quanto
para o funcionário. Procurar atender ao maior número possível (e economicamente
viável) de suas demandas, para que ele possa retribuir com seu melhor
desempenho (para manter-se por algum tempo, pelo menos, no usufruto das
condições favoráveis de trabalho).
Há uma nova configuração do mundo do
trabalho. Mas muitos gerentes se perdem em lamúrias improdutivas, reclamando da
inquietação e infidelidade (falta de comprometimento) dos jovens de hoje, enquanto continuam insistindo nas práticas antigas,
de chicote na mão e ameaças na boca. Enquanto não acordarem e promoverem
profundas mudanças nas percepções, discurso e práticas, continuarão perdendo
funcionários e promovendo intermináveis reposições, num processo vicioso de enxugar gelo.
Muito bom meu querido amigo! Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça!
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