Há muito tempo não lia nada tão sensato sobre liderança...
Por Marcos Baumgartner
Me lembro de uma frase escrita em 1830: “Você é o rei, vive sozinho!
Siga o caminho onde o seu espírito o leva”. Estas palavras de Alexander Pushkin
são, para mim, uma ótima metáfora do conceito de liderança, que é incentivar
cada indivíduo a ser ele próprio, em vez de esperar a chegada de um poderoso
líder mágico que adormece a consciência e anula a liberdade.
Em essência, a liderança não é privilégio de poucos, mas sim uma
possibilidade potencial do humano para crescer e transformar-se. Crescer não
significa sair de si mesmo, mas sim, a possibilidade de alguém assumir de forma
responsável a gestão da própria existência, por meio da inteligência e da ação.
Não quero pensar a inteligência como habilidades mentais ou racionais.
Esse pensamento já foi ultrapassado por teorias como a de Gardner, que propõe a
existência de múltiplas inteligências, ou Goleman, que investiga o que ele
chama de “inteligência emocional”, definida pela capacidade do indivíduo de
compreender, assimilar e gerir emoções, as próprias e as dos outros.
Sendo atrevido, quero complementar Goleman dizendo que a inteligência de
um líder é determinada por sua capacidade de sair do determinismo de uma
situação e tomar decisões livremente. Acredito que o tipo de inteligência
necessário para conduzir nossas próprias vidas e influenciar positivamente a
dos outros nada tem a ver com matemática ou habilidades racionais. É muito mais
uma inteligência ligada ao trabalho da Vontade. A coragem de unir razão e
desejo, superando medos que nos impedem de fazer o que queremos. Mas há, nessa
ideia, uma ameaça latente muito bem representada na frase do filósofo
existencialista Gabriel Marcel, “quem não vive como pensa, acaba pensando como
vive”. Anote! Essa é, sem dúvida, uma frase para lembrar todos os dias. Viver
como se pensa pode até parecer simples, mas, na vida não basta termos um
pensamento lúcido e profundo. É necessário agir.
“Se você quer se conhecer, aja”, dizia Goethe. Entretanto, uma enorme
dificuldade se esconde nessa afirmação. Pensar é fácil, o difícil é agir. E,
agir de acordo com o que pensamos talvez seja das coisas mais difíceis de se
fazer. Acredito que pensar com calma e agir rapidamente sejam duas importantes
premissas para o exercício da liderança. Mas, é sempre bom lembrar que o líder
deve estar aberto para possíveis erros, uma vez que ninguém está isento de
falhar. Excelência não é eliminar a possibilidade de falha, mas sim, ser capaz
de enfrentá-la e corrigi-la.
Para mim, existem três desafios poderosos que desviam as pessoas na
busca da própria liderança: tempo, dinheiro e poder.
O desafio do tempo não reside em libertar-se do trabalho. Este desafio,
de modo mais amplo, é saber viver o presente. Combater essa tendência humana de
idealizar o passado para mitificar um tempo diferente daquele em que nos
encontramos. Estamos sempre correndo atrás do tempo. Viver no presente não
significa ignorar o passado ou fechar os olhos para o futuro, porque se o
passado é uma fonte de aprendizagem, o futuro requer planejamento e
disponibilidade para riscos. Trata-se apenas de olhar para eles de forma
correta, sem sacrificar viver verdadeiramente o momento presente.
O desafio do dinheiro está relacionado a encontrar uma motivação mais
significativa para nossas ações. A história tem dado provas suficientes de que
quando o dinheiro é assumido como um fim, o ser humano fica submetido e
degradado. Enquanto juntar mais e mais dinheiro for a única preocupação, os
motivos para ação só nos afastarão do nosso verdadeiro propósito, enquanto
líderes, de agir em prol do crescimento dos outros.
E, em relação ao poder, o desafio é que liderança exige desapego,
humildade, sinceridade e muito humor. Tem muito mais a ver com
responsabilidades e deveres do que com direitos e privilégios.
Fonte: http://rtd.com.br/.
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Fonte: revista
T&D – Inteligência Corporativa, edição 190, ago-set/2015. Capturado em
19/set/2015, em https://bc.pressmatrix.com/en/profiles/93eb6586267e/editions/6b2df498b8da712bf7ee/pages/page/2.
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ResponderExcluirBoa matéria, Lourenço. Em todos os processos de reestruturação de empresas que tenho liderado a resistência para o novo, estar a fim de se adaptar e simplicidade na execução, são alguns dos desafios que tenho enfrentado.
ResponderExcluirÉ isso aí, Satoshi. Trabalhar COM as pessoas é muito, muito mais difícil do que MANDAR. Este é o desafio do líder.
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