segunda-feira, 30 de maio de 2016
Uma leitura imperdível!
Chega a ser assustador, mas a prosa do autor é deliciosa e suas abordagens, sobre a história até aqui, e as especulações (muito bem fundamentadas) sobre possibilidades futuras, são, no mínimo, instigantes.
segunda-feira, 9 de maio de 2016
Notoriedade
Joanna de Ângelis
Disputa-se muito, na sociedade, a conquista da fama, o privilégio do
destaque, a notoriedade.
Façanhas de todo porte são apresentadas no cenário humano, de modo que
chamem a atenção para as suas personagens. Quando não se dá a conquista através
dos lances de enobrecimento e elevação, derrapa-se no escândalo, na
vulgaridade, desde que o empenho produza os frutos da popularidade.
Criou-se mesmo um brocardo que afirma a necessidade de notoriedade,
quando se propõe: "Que falem mal de mim, mas, que falem..."
A ânsia por notoriedade permite que os caracteres mais frágeis, a fim de
alcançá-la, transitem pelos caminhos escabrosos, vivam em estado de
promiscuidade moral, desde que esse contributo venal, tal concessão lamentável,
sirva para lograr a meta.
Passada, no entanto, a excitação da notoriedade, o cansaço se instala no
indivíduo, levando-o ao tédio, após vividas as sensações mais fortes, que
exigem outras novas e desgastantes, sempre efêmeras.
Por outro lado, há a notoriedade natural, alcançada pelo trabalho,
mediante o sacrifício, como resultado do altruísmo e da sabedoria.
As artes e as ciências, as religiões e as filosofias, a ética e todos os
empreendimentos humanos relevantes, ergueram à notoriedade homens e mulheres
que passaram a ser símbolos dignos de seguidos pelas demais criaturas.
A sua trajetória, todavia, deu-se mediante pesadas renúncias e
eloquentes sacrifícios.
Alguns desses indivíduos notáveis teriam gostado do anonimato, da vida
pacata ou ativa, sem as exigências que a glória terrena impõe, sem a perda de
tempo que a notoriedade propicia.
Quase todos aqueles que cercam os vitoriosos tendem a asfixiá-los,
olvidando-se que esses são seres humanos normais e necessitam respirar, descer
do pódio, viver. Exigem-lhes a mesma postura, o habitual e constante momento de
relevo, a notoriedade refletida sempre no comportamento de todas as horas.
Negam-lhes o direito de viver simplesmente.
O grande físico Albert Einstein, amargurado com o uso que foi feito do
átomo, após o lançamento das bombas nucleares sobre Hiroshima e Nagasaki,
escreveu que desejava ter sido um bombeiro-encanador anônimo, a, mesmo que
inconscientemente, ter contribuído para o êxito do Projeto Manhattan, que
culminaria na destruição de milhares de vidas e daquelas duas cidades.
Pasteur escondia-se dos admiradores, a fim de poder prosseguir nas suas
pesquisas.
Madame Curie sofreu tanto assédio dos fãs que, não suportando mais,
pediu-lhes que a deixassem trabalhar.
Heifetz, o insigne violinista, quando alguém lhe disse que daria a vida
para tocar como ele, redarguiu com calma: - Foi exatamente isto que eu fiz: dei
toda a minha vida à arte do violino...
O Cura d'Ars via-se constrangido a repreender os insensatos que o
queriam adorar em vida.
A galeria é vasta e expressiva, daqueles que teriam preferido o serviço
anônimo, de modo a passarem despercebidos.
Mesmo Jesus, sempre que operava os admiráveis fenômenos de socorro à
multidão, fugia-lhe do convívio, a fim de ficar a sós com Deus...
A notoriedade, pelo que tem de belo e grandioso, também se expressa como
grave e de alta responsabilidade. Favorece o orgulho e fomenta a presunção dos
fracos, que derrapam na prosápia e no culto da personalidade, assim
entorpecendo os sentimentos nobres e turbando a claridade da consciência do bem
e do dever.
Nem positiva ou negativa a notoriedade, para quem deseja, realmente,
servir e encontrar a paz.
O silêncio, a discrição e a perseverança no ideal, na ação digna,
constituem o aval de segurança para o êxito e o melhor antídoto para os venenos
perigosos que destroem as criaturas humanas.
Se te vês convidado a uma situação de fama e notoriedade, resguarda-te
na prece e vigia as nascentes do coração, a fim de permaneceres inatingido pelo
mal que dorme em ti próprio.
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[Cap. 19, da obra Momentos de Harmonia; psicografia de Divaldo P.
Franco. Salvador/BA – Livraria Espírita Alvorada Ltda. – LEAL; 1992])
-o-
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