Autoconhecimento e carreira
José Lourenço de Sousa
Neto
Autoconhecimento é fundamental para ter vida e carreira bem
sucedidas. Sem se conhecer, como o indivíduo pode saber o que quer e o que o
faz feliz? Se não sabe dos próprios recursos, como enxergar até onde pode ir? A
partir de que ponto precisa buscar parcerias e novos aprendizados e
ferramentas? Desconhecendo seus limites, ele pode comprometer seu crescimento
pessoal e profissional. Muita gente fala que quer ser feliz e ter sucesso, mas
não sabe dizer com clareza o que seja uma coisa ou outra.
O autoconhecimento é demandado desde o início, quando a pessoa
começa a definir que rumo quer dar à sua vida. Da escolha da profissão, ao
estabelecimento de metas que pretende atingir – no planejamento estratégico
pessoal. Durante a caminhada, quando for necessário rever o plano e corrigir
rumos, a auto percepção será determinante.
Conhecer suas competências e habilidades, entender o que o motiva
ou bloqueia, é fundamental na hora de avaliar os desafios e traçar estratégias
de enfrentamento. Com isso, a pessoa usa melhor o potencial que tem e reserva
energias para manter-se produtivo por mais tempo. Sem isso, corre o risco de
forçar muito na arrancada, ou exagerar em alguns pontos de uma prova longa,
comprometendo seu resultado.
Importa saber como comporta tanto o corpo como a mente, para se
ter uma avaliação correta das potencialidades e das necessidades – mapeamento
de forças e fraquezas. E cabe ao próprio indivíduo cuidar disso, conduzindo seu
processo de desenvolvimento, evitando a ilusão de que a empresa ou algum “guru”
fará isso por ele. Coaches, mentores,
líderes e mesmo a organização, a família e os amigos, podem ser aliados
valiosos, desde que saiba o que buscar deles. Caso contrário, podem acabar
prejudicando, com o jogo de palpites,
opiniões, diretivas, que podem desviar do rumo ou tirar o foco. Não tem como
ser diferente – apenas o indivíduo, e só ele, pode saber da “dor e do prazer de
ser o que se é”.
Existem vários caminhos para o autoconhecimento. Abaixo
apresentamos algumas sugestões.
─ Meditação – cada vez mais citada hoje em dia, a meditação permite
um mergulho interior que traz, com a prática disciplinada, uma profunda
abordagem pessoal, com iluminação de pontos sombrios, e às vezes inusitados, da
própria mente. E inúmeros outros benefícios, especialmente na saúde geral, como
a ciência começa a descobrir.
─ Diário – o hábito de escrever um “diário de bordo”, como alguns
gostam de chamar as anotações pessoais feitas todo final de jornada, é muito
útil. Ao se dar um tempo para pensar como foi seu dia, o que cumpriu da agenda
e o que foi postergado, experiências novas e, principalmente, emoções
experimentadas, a pessoa descobre-se um pouco mais. É importante a anotação,
porque a memória não é confiável. Ao reler os registros, pode-se aprofundar
mais no autoconhecimento. A sinceridade e a franqueza consigo, nesse exercício,
é fundamental para que o indivíduo não caia na armadilha do elogio próprio,
iludindo-se com os confetes do louvor autoconcedido.
─ Foco no corpo – as sensações corporais podem revelar muito mais do
que se imagina. Ao sentir uma ligeira dor de cabeça, a pessoa recorre logo a um
analgésico. Perde uma chance valiosa de aprender alguma coisa sobre si. Todo
desconforto, psicológico ou físico, tem sua razão de ser. Deve-se dialogar com o incômodo: por que ele
está acontecendo? Qual sua causa? Quais os possíveis desdobramentos? O que, em
síntese, pode ser aprendido com ele?
Alguém já disse que “não basta
sofrer. É preciso saber sofrer”. Não aprender a lição da dor é candidatar-se a repeti-la.
─ Sair do automático – “quando descasco uma laranja, eu descasco uma
laranja” (de um mestre budista). Essa fala, que pode parecer de uma obviedade
torturante para os apressadinhos, remete à nossa maneira corriqueira de pensar
e agir. Enquanto descascamos uma laranja, nossa mente vagueia por inúmeros
outros lugares; nosso cérebro ferve com pensamentos que nada têm a ver com o
que estamos fazendo. O convite, aqui é para que prestemos atenção no que estamos fazendo, como estamos fazendo, no propósito da ação. E permitir-se sentir
a experiência – o tato, o odor, a visão, etc. Isso abre espaço de aprendizado
onde o automatismo tinha jogado suas sombras, levando a pessoa a dar-se conta
do que faz, como e porque faz.
─ Questionamento constante – checar sempre a maneira como faz as
coisas, questionando a validade de velhos fundamentos, e verificar se não há
forma melhor de fazer, leva o indivíduo a “sair da caixa” e a desenvolver
espírito inovador. Não se inova apenas em grandes realizações. Isso é raridade.
Pequenas melhorias, acumuladas tarefa a tarefa, dia a dia, causam, depois de
algum tempo, verdadeiros tsunamis no
cotidiano. O pessoal da área da ciência que o diga. Além desse processo de
“melhoria contínua”, a pessoa mapeia-se mais um pouco a cada auto arguição.
─ Cursos e treinamentos – como PNL, liderança pessoal, específicos
de autoconhecimento, entre outros, também podem ajudar muito.
As sugestões acima são apenas exemplos do que cada pessoa pode
fazer, desde que se disponha ao autoconhecimento.
________________
Veja o que alguns empresários, que também são desportistas
dedicados, dizem sobre o autoconhecimento advindo do esporte que praticam:
─ “Ligado o
tempo todo” e capacidade de planejamento; agilidade nas decisões. – (Luiz
Augusto Milano, Matec Engenharia; bicicleta).
─ “Aprendi a
ser responsável pelos meus resultados. Tenho de ter disciplina, ir atrás, ser
protagonista. Você precisa saber o que conhece para saber aonde pode chegar.
Você precisa construir seu resultado dia após dia.” – (Pedro Chiamulera,
ClearSale; corrida).
─ “Toda vez
que entro no mar, tenho receio. Mas uma coisa é chegar com medo e despreparado.
O importante é não arriscar demais. O limite é esse.” – (Roberto Cantoni Rosa,
UM Investimentos; surf).
─ “O importante
é entender até onde posso ir. Só assim encontro o caminho e consigo fazer o
melhor planejamento. Se não faço isso, não consigo ter desafios maiores.
Aprendi a olhar para todos os lados, analisar profundamente. Se você quer ter
sucesso, comece por onde já conhece. Só depois faça o que não tem costume. A
experiência – e saber ir devagar, no tempo certo – é fórmula para chegar ao
final com um bom resultado.” – (Andrea Guasti, Cisa Trading; alpinismo).
(Artigo baseado na reportagem “Qual é o seu limite” – Lucas Rossi,
revista Você S/A – ed. 186, nov/2013).
_______________________
Ouça
o que fala Diego Martins, da Acesso Digital (http://www2.acessodigital.com.br/),
sobre autoconhecimento (entre outros assuntos), em entrevista a Milton Jung, da
CBN è http://cbn.globoradio.globo.com/boletins/cbn-young-professional/CBN-YOUNG-PROFESSIONAL.htm.
-o-